O refúgio




CASA DA MISERICÓRDIA

O pai fuzilado.
Ou, como diz o juiz, executado.
A mãe, a miséria e a fome,
a instância que alguém lhe escreve à máquina:
Saludo al vencedor, Segundo Año Triunfal,
Solicito a Vuecencia deixar os filhos
nesta Casa da Misericórdia.



O frio do seu amanhã está numa instância.
Os orfanatos e hospícios eram duros,
mas ainda mais dura era a intempérie.
A verdadeira caridade dá medo.
É como a poesia: um bom poema,
por mais belo que seja, tem de ser cruel.
Não há mais nada. A poesia é agora
a última casa da misericórdia.



Concebido e nascido em plena Guerra Civil (Espanhola),  prova real, segundo o autor, de que o amor e a guerra  estão mais próximos do que se julgam. Naturalmente influenciado pelas consequências dessa mesma guerra, desenvolveu o seu talento reflectindo as suas realidades na poesia em paralelo com o seu lado profissional como arquitecto. Cujo qual afirma oferecer-lhe a necessária experiência para a escrita. Descreve-se como um poeta "maximalista" de poesia realista e minimalista.
De uma sensibilidade e transparência incríveis, acrescento eu.

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