A porta

Quando menos se espera coisas estranhas acontecem...

Ao descer as escadas do prédio, (sim, porque dois pisos não justificam elevador) depara-se com um par de pernas nuas mas aloiradamente peludas em bermudas e havaianas que se esquivam para a porta do apartamento r/c esquerdo. A sua curiosidade aumenta de dia para dia sobre o músico do prédio, de quem tanto se fala e ouve.

Desde o dia em que acordou aos acordes do piano que controla o seu lado Bridgeteniano.

Dizem que é simpático, podia sempre tentar a sua sorte. Sorte era o que não lhe faltava.

Dirige-se à porta do prédio ouvindo o diabinho a sussurrar-lhe ao ouvido "vai lá, tenta". Enquanto isso, o anjinho do lado oposto responde-lhe "estás louca? tens um comboio para apanhar, deixa-te de patetices..."

Sente-se como o louco no meio da ponte.

De súbito, ouve uma porta atrás de si abrir-se e fechar-se em menos de nada. O seu corpo gela. Ouve passos. A sua mão paralisou na maçaneta da porta, deixa de respirar. Atrás de si, espera alguém pacientemente. Respirando fundo aperta o botão para destrancar a porta. O estalido entoa por todo o prédio. Com ele o seu corpo estremece. A porta está destrancada, basta puxá-la para si.

No mesmo intervalo de tempo, a pessoa deixou de esperar, está agora lado a lado com ela. Um indivíduo na casa dos 30, sorri-lhe, dando-lhe o Olá mais bem disposto que alguma vez ouvira. Oferece-se para abrir a porta.

Com o cérebro vazio, sorri timidamente para aquela alma simpática, consentindo o cavalheirismo raro nos dias de hoje.

E a porta fica escancarada...