Alma Fria

Numa 6ª feira de sol quente e sombra fria, despeço-me do Verão. Hoje consegui sentir aquele friozinho matinal característico Outonal. Uma aragem que me feriu o rosto como uma navalha. As mãos gelaram e desejei ter ficado embrulhada no quentinho do edredon. O café com leite bem quentinho pareceu uma dádiva dos deuses. E o aroma a castanhas assadas no carvão transportou-me à época em que brincava nas folhas secas espalhadas pelo recinto da escola enquanto os professores faziam uma grande fogueira em homenagem ao Magusto.
Nessa altura sentia o Mundo aos meus pés. Não tinha qualquer noção da realidade, mas vivia cada momento, cada brincadeira. Mais tarde, já em casa, revivia esses mesmos momentos contando as peripécias do dia com um brilhozinho nos olhos de entusiasmo.
No Presente, ficam as memórias que me fazem sorrir para mim mesma ao recordar-me a menina brincalhona e descontraída que era.
Pergunto-me a mim mesma para onde foi todo esse entusiasmo, que me disse Adeus em silêncio e travou o esplendor que me rodeava. Talvez o que mais temia está a acontecer. A menina cresceu e levou as sensações com ela. Tal como o Verão foi embora e levou o calor reconfortante consigo.
E eu fico no impasse de lhe dizer Adeus deixando-a ir em paz. Mas sentindo que preciso dela, desejando travá-la tal como quero travar o Sol de Verão que me alimenta a alma com boas energias.
Outono deprimente este que me leva a alma com o seu vento Norte, áspero e severo.

Fotos por: Sofia Baleia