Não sei quem sou...



"Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou váriamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpétuamente me ponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa, in 'Para a Explicação da Heteronímia'

Comentários

A. C. disse…
Sempre houve imensos Pessoas!

O que ele fez, foi verbalizá-los nele!

( Também tenho direito a dizer disparates. De vez em quando)

Um bom fim de semana lá mais para diante!...

A. C.
Lali disse…
Somos todos espelhos desconhecidos e irreconhecíveis, a bem ou a mal.

Bom começo de tudo no futuro próximo.
Anónimo disse…
por falar em disparates, por esta altura sabes pelo menos uma coisa: não és fotógrafa.
Tens, portanto, tudo para o vires a ser...e não me refiro à maquineta. É assim como um analfabeto que se prepara para o seu primeiro dia de escola...Não sabe nada. Ainda.
Lali disse…
Não sou coisa nenhuma, disso nunca tive dúvidas.
Desnecessária a confirmação de um anónimo.

Mas enfim, haja alguém que me afirme, mesmo que não saiba afirmar-se ou não tenha a coragem para assumir-se.

Fica o disparate do dia...
A. C. disse…
Aqui o A. C nunca se faz passar por anónimo.

Aqui o A. C é todo e só ele.

Aqui, o anónimo é qualquer outro!

Aqui, eu sou o que sou em toda a parte; ali, acolá e por aí!

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