Somos Pessoa

Já mais que uma vez citei Pessoa por aqui.
Ainda não entendi se por gosto ou semelhança, lá me vou reflectindo no senhor.
E nestes dias vagueando pela Fnac do Chiado, dou de caras com este livro que me paralisou as pernas como que um encantamento.
Belo trabalho este!


Vaga, no Azul Amplo Solta

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Comentários

Mensagens populares